23/12/2008

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Hatori acabava de fechar a porta do quarto do patriarca e se mantém por mais alguns instantes encostado nela.

#Não consigo ir embora. Não quero deixa-la sozinha.#

O médico entra novamente no quarto e a encontra ainda deitada na cama. Akito abre os olhos quando escuta o barulho da porta, e ao ver que era o possuído sente o seu coração bater mais acelerado.

-Faltou algum medicamento?

-Não. Apenas…. Eu acredito que lhe faria muito bem, se saísse um pouco desse quarto.

-Eu não quero.

O rapaz não sabia como se comportar naquele instante, ainda se permanecia em pé ao lado da cama do patriarca. Sentia uma vontade de se sentar na cama, mas ao mesmo tempo se sentia um pouco sem jeito para fazer isso. Akito limitava-se a olha-lo.

-Mas eu acho que lhe faria muito bem.

-Já estou cheia de sair sozinha.

-Eu irei com você

Akito ao escutar aquilo levanta apenas a parte do tronco se apoiando no braço direito e olhando para o médico.

-Que?

-Levanta-se, apesar de estar uma tarde de inverno está com um dia bem claro. Veja.

Hatori caminhava enquanto falava até a janela e abre as pesadas cortinas na cor de vinho deixando que a claridade voltasse a invadir o quarto. Akito não tinha se mexido nem um centímetro a mais, apenas o olhava sem acreditar no que estava acontecendo.

#Mas por que isso agora? Será que aquela velha intrometida falou alguma coisa para ele? Ele não deve estar fazendo isso por vontade própria.#

-Você ainda gosta de tomar sorvete no inverno?
Os olhos de Akito ficam ainda mais arregalados quando escuta aquela pergunta, quando era criança, ela e os três possuídos costumavam tomar sorvete em pela tarde de inverno mesmo se tivesse caindo neve.

-Você ainda se lembra disso?

-Claro. Conheço um ótimo local para te levar.

Hatori não entendia muito bem o que estava fazendo, nem se o patriarca ia aceitar aquele convite, mas tudo o que ele mais desejava naquele momento era tira-la daquele quarto, queria que ela voltasse a sentir a mesma alegria que sentia quando era criança e que brincava com ele, o shigure e o Ayame. O rapaz volta a caminhar até a cama do patriarca e se mantém de pé, mas dessa vez oferece a sua mão para a garota que apenas o olhava sem entender quais eram os sentimentos dele.

-O que aquela velha da Yoko lhe falou? Eu ainda vou mandar aquela lá para bem longe daqui.

-A sua governanta não me falou nada. Porque pensou isso?

Akito ainda se mantinha meio que deitada na cama, mas apoiada no braço direito, não queria acreditar que o possuído pudesse estar a convidando por sua simples vontade, era claro que ele não faria aquilo, que não a convidaria porque queria a sua companhia. Justamente ele entre todos os possuídos é o que tinha mais motivos para ficar longe dela. Hatori percebe que a garota estava bem insegura e senta-se na cama, ficando na sua frente, mas virando a cabeça para lhe olhar.

-Quer que eu diga que isso é uma recomendação médica? Será que assim você aceitaria sair um pouco desse quarto?

Akito volta a se deitar na cama, vira-se e fica de costas para o possuído.

-Então, pode se retirar Doutor Hatori, pois não pretendo seguir esse tratamento.

O coração do patriarca estava batendo muito acelerado, a sua vontade era de se levantar da cama e ir com ele, mas tinha certeza que o possuído estava fazendo aquilo somente por piedade. Não se sentia no direito de receber tal ato, ela não era digna, por sua culpa ele estava quase cego de um olho e mesmo que o tempo estivesse apagando aquele crime no coração do rapaz, ela fazia questão de se penitenciar todos os dias pelo seu pecado. Hatori não conseguia encontrar mais nenhum argumento para a convencer.

-Hatori, eu quero dormir mais um pouco agora.


Vendo que não adiantaria tentar falar mais nada naquele momento, o médico se levanta da cama e começa a caminhar em direção a porta, Akito apenas escutava o som dos passos do possuído, seu coração batia ainda aceleradamente, mas ao mesmo tempo estava um pouco dolorido por saber que em poucos segundos ela voltaria a ficar sozinha naquele quarto que agora estava sendo iluminado pela aquela tarde clara de Inverno.

#Ele pode ter esquecido o que eu fiz, mas eu nunca irei esquecer. Não quero me aproximar dele novamente, sei que posso machuca-lo. E se aquele sonho foi um presságio? Eu sei que posso mata-lo num acesso de raiva, não aguentaria ser desprezada por ele.#

Hatori caminhava se sentindo um pouco frustrado, tinha voltado para aquele quarto determinado a fazer alguma coisa pelo patriarca. Não conseguia entender a irritação que estava sentindo consigo mesmo, pensava que estava irritado por ter falhado como um médico. Ele coloca a mão na maçaneta da porta e se vira mais uma vez para olhar o patriarca que ainda se mantinha de costas. O médico respira fundo abre apenas metade da porta saindo do quarto, deixando a Akito chorando sozinha em seu quarto.

by DonaKyon

2 comentários:

Unknown disse...

tudo se começa com o começo, as iniciativas de aproximação de Hatori foram otimas, cabe a pergunta: será que ele está disposto a finalizar

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.