01/04/2009

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Akito se aproxima sem falar nada e fica parada na frente do médico, que ao ver aqueles pequenos sapatos vermelhos que acompanhavam a barra do vestido, já sabia que era o patriarca que estava parada na sua frente e ele levanta a cabeça.

-Ela te falou sobre o casamento?

-Eu já sabia. Na semana do ano novo a vi com uma amigas no centro da cidade, e escutei a conversa delas.

A garota senta ao lado do médico, mas não muito próxima dele.

-E mesmo assim me disse que não me culpa por nada? E mesmo assim está aqui ao meu lado?

-Eu não quero viver do passado. Apenas do presente.

#Ele diz isso, mas está aí sofrendo por algo que está no passado.#

-Hatori. Quero voltar....

O médico se levanta e começa a caminhar em silêncio na direção oposta a que havia tomado Kana e o seu noivo e que também levava a saída. Akito o olha cheia de tristeza.

#Eu ia dizer que queria voltar no tempo.... É tão ruim assim para ele ficar ao meu lado? Por que? Por que então ele está fazendo tudo isso por mim? Por que não me deixou continuar naquele mundo escuro e solitário que eu tinha criado para mim mesma depois daquele dia?#

Akito abaixa a cabeça para evitar que algumas lágrimas caíssem fechando os olhos. Sentia que os seus joelhos estavam começando a tremerem um pouco e sente que o seu coração estava sangrando. Não. Era mais do que isso, sentia que a sua alma estava completamente ferida, que estava a ponto de morrer de tristeza.

#Eu só queria ser amada por você....#

Hatori que já tinha andado alguns metros, para de caminhar quando percebe que não escutava o som dos sapatos da Akito atrás dele e olha para trás a encontra ainda sentada e de cabeça baixa.

#Isso a deixou novamente deprimida.#

O médico fica parado esperando que a garota se levante. Percebendo que a garota não ia se levantar o possuído caminha até lá com as mãos dentro dos bolsos do terno.

-Aki.... Tsubaki-san...

-Por que me deu esse nome naquela hora?

-Porque me pareceu um bonito nome para você, já que você se parece com as flores de Tsubaki.

-Você realmente acha que me conhece?

Akito tinha colocado um pouco mais de raiva em sua voz ao perguntar aquilo e abre os olhos, mas não o olha mantendo a cabeça ainda baixa. Hatori que já conhecia o mal-humor do patriarca volta a se sentar ao seu lado.

-Nenhum de nós tem o direito de realmente conhecer o nosso kamisana.

Ao escutar aquilo, Akito se levanta e segura o médico pelo terno olhando-o bem nos olhos e chamando a atenção de todos que estavam passando.

-Você realmente quer me deixar louca? Pois saiba que já conseguiu. Pode colocar em seu prontuário que eu estou louca. Pode providenciar o melhor tratamento para a minha loucura. Pode me mandar internar de uma vez.

O médico calmamente coloca as suas mãos sobre as delas e se levanta, quando está de pé, ele a abraça, deixando-a bem próxima do seu corpo. Akito sente a sua respiração falhar, mas depois empurra o possuído e se solta de seus braços, e apesar de não estar chorando, Hatori podia perceber o desespero no qual ela estava naquele momento.

-Como acha que eu estou me sentindo vestida desse jeito? Acha que eu me reconheço nessas roupas? Eu não sei quem eu sou. Essa não sou eu. Mas eu mesma não sei o que sou. Não sei se sou o patriarca, se sou o kamisama, se sou um homem ou se sou uma mulher, já nem mais sei se ainda sou um ser humano. Eu gostaria de saber quem sou eu..... Gostaria que alguém me disse-se quem realmente eu sou....

Hatori fica olhando nos olhos de Akito enquanto ela estava falando e percebe que os seus olhos estavam se enchendo de lágrimas.

- Eu realmente gostaria que aparecesse alguém que acabasse com a maldição. Com a maldição de vocês possuídos e com a minha maldição de kamisama. Quem sabe assim eu saberia quem eu sou.....

O médico lembra-se que algumas daquelas mesmas palavras tinham sido ditas por Akito no dia em que ele foi pedir a sua permissão para se casar com a Kana

#No fundo ela deve sofrer muito mais do que todos nós por causa dessa maldição. Acho que ela deseja muito mais do que qualquer um de nos poder ser livre.#

Hatori novamente a abraça e Akito apenas encosta a sua testa em seu peito. Sentia uma enorme vontade de chorar, mas não queria. Não podia mostrar toda aquela fragilidade naquele momento. Sabia que se o fizesse, se chorasse naquele instante, ela acabaria contando ao primo sobre os seus sentimentos por ele. Revelaria que o amava desde que era uma adolescente, que ela sempre o tinha amado não apenas como um possuído, mas como um homem.

Kana, ao vê o médico abraçado a uma delicada jovem, para de caminhar e coloca a mão no peito. Ela havia voltado para trás para ir ao banheiro, e ver aquela cena a machucou um pouco. A garota volta pelo caminho que estava vindo sem ser vista pelo Hatori.

by DonaKyon

29/03/2009

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Akito olhava ao seu reflexo no vidro do aquário, mas não conseguia acreditar que aquela imagem era a dela. Nunca tinha visto aquela pessoa em sua vida.

#Essa não sou eu! É impossível que seja eu. Akito Sohma, o patriarca do clã Sohma. O kamisama dos possuídos não é essa pessoa. Mas então quem é essa pessoa que está na minha frente? Por que essa sem dúvida alguma não sou eu.#

Hatori estava sentado em um dos bancos destinados ao descanso dos visitantes, próximo aos banheiros, e aproveitou para fumar um cigarro enquanto olhava a Akito parada na frente do enorme aquário imaginando que ela estivesse admirada com a grande variedade de peixes que nadavam em círculos a sua frente.

-Doutor Hatori! É o senhor mesmo. Há quanto tempo que não nos víamos.

O coração de Hatori assim que escuta aquela voz começa a bater mais forte e ele se levanta para cumprimentar adequadamente.

-De fato, fazia algum tempo, Kana-san. Como tem passado?

-Estou muito bem. Estou na cidade para tratar dos preparativos do nosso casamento.

São dois os sentimentos trazidos por aquelas palavras “nosso casamento”, primeiro de espanto misturado com alegria, parecia que ela estava se referindo ao casamento deles, assim como tantas vezes havia falado, mas depois ao ver o jovem homem que se aproximava dela e lhe dava a mão, o sentimento que começou a sentir foi de solidão e inveja.

-Parabéns para vocês. Desejo muitas felicidades aos dois.

-Muito obrigada Doutor Hatori. Esse é o meu noivo, Tamaki Hitachin. Tamaki-san, esse é o meu primo e o meu antigo chefe, Doutor Hatori Sohma.

Os dois homens se inclinam para se cumprimentarem. E ao voltar o possuído percebe que a Akito já não estava mais diante do aquário a poucos passos de distancia deles. Ele fica olhando de um lado para o outro e a Kana percebe que estava procurando alguém.

-O que foi, Doutor?

-Estou procurando a A... Tsubaki-san...

Kana sente um pequeno aperto em seu coração mais não entende muito bem a razão daquilo quando fica sabendo que o médico estava acompanhando, e logo imagina que assim como ela, ele também estava em um encontro.

-Ahh, deve ser a namorada do Doutor.

-Não. Ela é uma prima nossa.

-O clã dos Sohmas é tão grande que é impossível conhecer a todos.

-Sim.

Hatori para de olhar para os lados e olha para a sua ex-namorada. Ela estava ainda mais linda depois desses dois anos. Seu coração doía um pouco ao ver que ela o tinha esquecido, e que estava para se casar com outro homem.

# Se eu pudesse fazer aquilo que desejo, estaria agora mesmo fugindo com ela de mãos dadas para bem longe daqui. Mas será que ela voltaria a me amar assim como me amou um dia?#

-Doutor Hatori... Será que eu poderia levar o convite do nosso casamento para o senhor, em seu consultório?

-Sim. Estarei lhe esperando.

-Então tentarei ir até lá ainda na próxima semana. Adeus.

O casal de namorados começa a caminhar de mãos dadas deixando o médico parado olhando-os cheio de inveja e ciúmes.

# Eu também já senti o calor daquelas mãos. Aquela felicidade um dia também foi a minha.#

O médico deixasse se sentar novamente e abaixa a cabeça. Sentia-se aliviado por ver que ela estava feliz, tinha certeza de que realmente tinha feito à coisa certa quando apagou as suas memórias sobre a época que os dois namoraram, mas ao mesmo tempo se sentia infeliz, por relembrar quanto que eles tinham sido felizes juntos, lhe doía saber que aquele amor agora era apenas uma lembrança para ele.

Akito estava voltando para o aquário das espécies pequenas, onde encontra o médico sentado de cabeça baixa. Assim que viu a Kana conversando com o médico, a garota tinha ido para a próxima ala do aquário, por temor de ser reconhecida pela outra, mas a poucos segundos, o feliz casal de noivos havia passado quase ao seu lado e nem perceberem a sua presença.

#Ele ainda fica muito abalado por causa dela.#

by DonaKyon

62


-Gure, por que nunca contou ao Haa-san o que a Akito-san sentia por ele?

-Não achei que tinha esse direito. Assim com ainda acho que não o tenho. E pelo o que conheço do Tori-san, acho muito difícil ele aceitar os sentimentos dela.

-Mas nunca se sabe. Eu também não achava que você não iria aceitar os meus sentimentos.

-No nosso caso é diferente. O Hatori não consegue ver a Akito como uma mulher, na cabeça dele, ela é homem.

-Mas eles foram até a minha loja e ela saiu de lá como uma mulher.

-Aposto que o Tori-san está pensando em Akito como se tivesse vestindo um cosplay qualquer. Ele não a verá como uma mulher.

-Por que não? Um dia você a viu como uma mulher.

-Ahh, aquilo foi um amor de infância.

-Mas mesmo assim a Akito-san foi o seu primeiro amor.

-Ela pode até ter sido o meu primeiro amor, mas o meu eterno amor é você.

Shigure se virá e encosta os seus lábios nos do Ayame e depois o abraça. Ayame aproxima os seus lábios do ouvido do primo e lhe sussurra.

-Já você sempre foi o único amor que tive na vida.

-E será que continuarei sendo o seu único amor??

Shigure o apertará um pouco mais em seus braços e tinha deixado sair esse triste pensamento de sua boca, porém este não chegou a ser escutado pelo Ayame. Já fazia muito tempo desde que o Shigure estava se sentindo inseguro por causa da Mine, queria acreditar que tal fato era apenas um fruto de sua imaginação, que nunca que o Ayame poderia se interessar por uma mulher, mas nos últimos meses, ele percebia que a relação entre os dois estava mais próxima depois que a garota tinha começado a costurar as criações do possuído.

-Gure.... Como é amar uma mulher?

Aquela pergunta faz com que a alma de Shigure fique amedrontada e o seu coração começa a bater um pouco mais acelerado. Ele afasta um pouco o possuído para lhe olhar, e encontra o mesmo semblante de sempre em seu rosto.

-Por que está me perguntando isso?

-Sempre tive essa curiosidade.

-Você está perguntando com relação a Akito-san?

-Sim,

-Então já sabe como é. Afinal você também a ama.

-É diferente Guretti. Amo o nosso Kamisama, e não a Akito. Pode parecer que é a mesma pessoa, mas para os possuídos não é. Você mais do que ninguém sabe a diferença, afinal você a amou como uma mulher e só depois é que passou ama-la como Kamisama.

Shigure não conseguia responder aquela pergunta devido ao medo que estava sentindo. Sabia claramente a resposta dela é por isso que não podia verbalizá-la. Ele sabia que não havia nenhuma diferença em amar um homem ou uma mulher. O Escritor sabia também que o Ayame o conhecia quase tão bem como o próprio kamisama e tenta mudar o enfoque da conversa.

-Ahahah, deixa o nosso patriarca escutar isso..... ahahahah.. Sabe que na cabeça dela não existe diferença alguma. Ela e o kamisama são a mesma pessoa.

-A Akito-san sabe a verdade. Ela pode até não querer enxergá-la, mas ela a sabe. Ficou sabendo no dia em que o Hatori foi pedir permissão para se casar. Naquele dia ela viu que os possuídos podiam amar ao mesmo tempo o kamisama e uma outra pessoa.

-Acho que nem mesmo a nossa relação ela aceitaria.

Ayame volta abraçar novamente o primo.

-Eu não quero ver mais nenhum de nós ferido como o Haa-san ficou. Nem os possuídos e nem aquela garota.

-Qual garota?

-A Hanajima-san.

-Ahhh, estava falando da Hana-chan!

-Uéé Guretti, de quem achou que eu estava falando?? Afinal, ela não é a única pessoa de fora que nesse momento que está namorando um dos possuídos

-E ainda mais o gato.... ai ai... Esse garoto não imagina o problema que ele acabou de arrumar para si mesmo.

-Tenho certeza de que o Gure estará ao lado deles, assim como ficou ao lado do Haa-san e da Akito-san.

-Tentarei ajuda-los o máximo que eu puder, mas agora, a única pessoa que quero ao meu lado é você.

Shigure desfaz o laço que prendia o quimono do primo deixando-o despido e lhe estende a mão.

-O que acha de aproveitarmos mais um pouco antes de voltarmos?

-Não precisa me perguntar pela segunda vez, amore mio...

Ele segura em sua mão e os dois voltam para a pequena piscina no fundo do quarto.

by DonaKyon