16/05/2009

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-Mas eu mesma não sei o que sou. Não sei se sou o patriarca, se sou o kamisama, se sou um homem ou se sou uma mulher, já nem mais sei se ainda sou um ser humano. Eu gostaria de saber quem sou eu..... Gostaria que alguém me disse-se quem realmente eu sou....

Hatori imediatamente se lembrava novamente daquela frase dita pelo Akito no dia anterior, e consegue entender um pouco mais o desespero que ela sentia. Seu coração bate um pouco mais aflito e ao mesmo tempo o médico sente um pouco de raiva de si próprio por não ter percebido algo que era tão claro.

-Como nunca percebi isso antes?

-Acho que agora irá entender um pouco mais a Akito. Pode parecer que são as mesmas pessoas, mas não são. Os sofrimentos e as decisões de cada uma delas são muito diferentes umas das outras.

Hatori tira mais um cigarro do bolso e acende. Tudo aquilo tinha o deixado um pouco confuso. O escritor toma o maço de cigarros de sua mão, acendendo um, e começa a se lembrar do dia em que ele descobriu qual era a dor que Akito carregava sozinha.

-No dia em que ela descobriu que não era um menino como nós, ela chorou tanto que tive muita pena dela. Foi naquele dia que eu me apaixonei por ela.

-Shigure, você se apaixonou por qual delas?

-Eu me apaixonei pela Akito Sohma. Pela triste Akito Sohma.

O médico se levanta para apagar o cigarro no cinzeiro que estava na mesa. Ainda era difícil aceitar o kamisama, o patriarca e Akito não eram as mesmas pessoas, quer dizer, eram e ao mesmo tempo não eram. Shigure ainda se mantinha sentado no sofá de três lugares.

-Sei que é difícil de entender. Eu mesmo demorei algumas semanas para entender isso. O Ayaa também já entendeu isso, mas tenho certeza que para os outros possuídos isso não é algo tão claro como ficou para você agora. Para nós desde que nascemos vemos Akito Sohma como o HOMEM que é o nosso Kamisama, já para todos os outros do clã vêem Akito Sohma como o HOMEM que é o patriarca dos Sohmas.

O escritor se levanta e fica ao lado do médico. Desejava que o primo entendesse exatamente qual era a real situação de Akito, uma vez que não poderia lhe contar que na verdade a garota era apaixonada por ele.

-Akito governa as novas vidas seguindo cada um desses papeis. Mesmo nós, os possuídos, que sabemos que ela também é o patriarca do clã, só a vemos como sendo apenas o nosso Kamisama, apesar de chamá-lo de patriarca também. Acho que você foi o único dos possuídos que foi a procurar como sendo o patriarca do clã dos Sohmas.

-Quando fui lhe pedir permissão para me casar com a Kana.

-Exatamente! Naquele dia não foi para o kamisama que você pediu para se casar, mas sim para o patriarca dos Sohmas.

-Mas ela me respondeu como sendo o Kamisama dos possuídos. Por isso não me deu permissão para me casar com a Kana.

#Ele se esquece que ela é uma MULHER. Ele ainda não a viu como a triste mulher que ela é. Se um dia ele passasse a ver como realmente é, nesse dia tenho certeza que ele se apaixonaria por ela também.#

-O Ayaa me contou que esteve na loja dele com a Akito.

-COMO ELE FICOU SABENDO?

-Se esqueceu da assistente fofoqueira dele? Ela tratou de ligar para ele, assim que você e a TSUBAKI saíram de lá.

-Até o nome ela contou?! Ela percebeu que Akito era o patriarca do clã?

-Não! Mas quem diria que aquela lá ia perceber que Akito era mulher?

-Foi por causa dos seios, mesmo sendo pequenos deu para notá-los.

-Ahh, como eu queria ter visto a Akito vestida com um vestido. Esse sempre foi um dos meus fetiches. E ela ficou bonita?

-Sim. Ficou linda. Não lembrava em nada o nosso patriarca.

-E por que fez isso? Por que a fez se vestir como uma mulher? Vai me dizer que esse era o seu fetiche também?

-Não seja idiota, Shigure! Apenas quis tirar Akito-san de dentro da sede e que se esquecesse de tudo por algumas horas. Nos últimos tempos a depressão dela piorou muito. Percebi que se não fizesse nada ela poderia até mesmo morrer.

- Então, fez isso como se fosse um tratamento médico?

Hatori não sabia que resposta dar ao escritor. Era obvio que estava preocupado com a saúde de Akito, mas não sabia se realmente tinha feito tudo àquilo apenas como se fosse parte de um tratamento. O médico caminha em direção da cozinha para pegar algo para eles beberem.

Shigure tinha percebido que aquela era uma oportunidade de fazer algo por Akito, e era por esse motivo que ele continuava com a conversa.

-E onde vocês foram depois?

-No aquário da cidade. Ela nunca tinha ido lá.

-Akito nunca fez muitas coisas para a sua própria diversão.

O possuído voltava para a sala com dois copos e uma garrafa de saque.

-Akito-san deve ser o mais amaldiçoado de todos nós.

-Sempre achei isso também. A sua vida é a mais dura de todos. Creio que ninguém no clã ou entre os possuídos sabem quais são as dores que ela carrega.

-Você sabe!

-Quem sabe agora você não comece a saber também? Mas viu?! O que deu de presente para ela no sábado?

-Você não se esquece de nada, não é mesmo?

-Claro que não! Afinal eu sou um escritor.... ahahahahah

O médico lhe serve mais uma dose de saque e os dois passam a tarde conversando ainda mais sobre Akito e o final de semana nas Termas, até mesmo sobre o beijo do Kyo em Haru e de seu namoro com a Hanajima.

by DonaKyon

13/05/2009

81


-Me ajude. Me salve!!! Eu não quero me casar com o Tamaki-san. Eu não posso me casar com ele, amando você tanto como eu amo. Por favor, me salve! Fale com Akito-sama também.... Me salve, Dr. Hatori.

-Mas eu mesma não sei o que sou. Não sei se sou o patriarca, se sou o kamisama, se sou um homem ou se sou uma mulher, já nem mais sei se ainda sou um ser humano. Eu gostaria de saber quem sou eu..... Gostaria que alguém me disse-se quem realmente eu sou....


As imagens das duas mulheres não saiam da cabeça do médico. Havia passado uma boa parte do período da tarde com a Akito, porém não tinham conversado muito, mas mesmo assim, ele sentia uma vontade de ficar ao seu lado. O possuído caminhava pela trilha de pedra que levava até a sua casa, e percebe que havia uma pessoa muito conhecida parada diante da sua porta.

#O que ele está fazendo aqui?#

O médico suspira e caminha de cabeça baixa, imaginando que aquela atitude poderia deixá-lo invisível e ele entraria em casa sem ser notado pelo seu visitante. Entretanto, tal estratégia não dá certo, e assim que o seu visitante percebe que o médico estava chegando ele tira as mãos de dentro do quimono e abre os braços para o receber com um enorme abraço.

-Haa-san... quanto tempo que não nos vemos... estava com saud.....

-O que quer, Shigure?

-Nossa?? É assim que você responde a minha demonstração de afeto?

O médico nem se dá ao trabalho de lhe olhar e abre a porta de casa a deixando aberta para que o possuído pelo espírito do cão entre. O escritor percebe que o médico não estava de bom humor para as suas brincadeiras, não que normalmente ele estivesse, mas naquela tarde estava com um ar ainda mais sério em seu rosto. O médico assim que entra acende um cigarro e se senta no sofá afrouxando a gravata. Estava morrendo de vontade de fumar, devido a fraca saúde do patriarca ele evitava fumar na sua frente. Com três longos tragos praticamente fuma o cigarro todo. Shigure se senta ao seu lado e não fala nada, ficando apenas a observá-lo.

-Como foi o final de semana nas Termas? A saúde do Yuki já está melhor?

-Sim, não teve mais crises. Ele foi até para o colégio hoje.

-Ótimo. As crises deles estão ficando mais fracas com o passar dos anos. Gostaria que a saúde de Akito-san também melhorasse com o tempo.

-Será que algum dia a saúde do nosso kamisama irá melhorar?

-Não sei.

-O que aconteceu, Haa-san?

O Trio amigos do peito se conheciam tão bem que era impossível tentar mentirem um para os outros. Sabendo que se não falasse o que estava acontecendo só deixaria o escritor ainda mais curioso, o que faria com que a sua visita durasse ainda tempo, Hatori resolve conversar com o possuído.

-Acabei de me encontrar com a Kana lá na sede. Ela foi pedir ao patriarca para cancelar o casamento dela. Disse que não pode se casar com o noivo porque ela me ama.

Shigure olha para o médico um pouco apreensivo para saber mais detalhes da tal conversa, mas a sua maior aflição era justamente por causa da Akito.

-Mesmo depois de eu ter lhe apagado suas memórias, ela ainda continuou me amando.

-O que irá fazer, Haa-san?

-Nada! Não posso fazer mais nada pela Kana. Ela irá se casar.

-Então o patriarca não aceitou cancelar o casamento?

-Claro que não! Isso deixaria o clã dos Sohmas mal visto pelos outros clãs, principalmente pelo clã do noivo dela.

-Mas e o seu amor por ela? Você ainda a ama, e mesmo assim aceita essa decisão do patriarca?

Hatori que até então conversava olhando para frente olha para o primo que estava sentado do seu lado esquerdo, e Shigure fica lhe olhando sem entender muito bem a expressão que ele tinha em seu rosto.

-Por que a chamou assim agora?

-Que?

-Quando a gente falava da saúde de Akito-san, você a chamou de kamisama, e agora a chamou de patriarca, por que disso? Todos não são a mesma pessoa?

Shigure dá um leve sorriso com os lábios e lhe responde.

-Acha mesmo que são as mesmas pessoas?


by DonaKyon

10/05/2009

80


Elisa volta a ficar de pé e caminha até uma linda sala cheia de brinquedos, sendo seguida pela garota e a criança. Ela se senta no sofá e aponta para o local ao lado para que a Tohru se sentasse, ficando a Momo a brincar com as várias bonecas que estavam espalhadas pelo chão.

-Eu não entendo muito família do meu marido. Às vezes, tenho a sensação de que os Sohmas vivem em dois mundos totalmente separados. Eu não conheço quase a nenhum dos Sohmas que moram na parte que é conhecida como “dentro”. A nós que vivemos do lado de “fora” só nos é permitida a entrada uma vez por ano, justamente para comemorar o primeiro almoço do ano. A senhorita mora com alguns Sohmas, segundo o meu marido me contou.

-Sim. Gentilmente o senhor Shigure me deixou morar na casa com eles depois que a minha mãe faleceu.

-Então é por isso que se esforça tanto sendo tão jovem. Meus sentimentos pela sua mãe.

-Obrigada.

Tohru já não sentia aquela dor que parecia que iria lhe matar quando se lembrava da mãe. Aos poucos estava se acostumando com a idéia de viver sozinha no mundo.

-Ahh, Shigure Sohma, não é aquele jovem escritor?

-É ele sim. Moro com ele e mais dois primos dele, o Yuki-kun e o Kyo-kun que são meus colegas de classe.

-Humm, esses eu já não os conheço.

Tohru arregala um pouco os olhos, nunca tinha imaginado que a separação entre os Sohmas fosse tão grande assim.

-São todas excelentes pessoas.

A mulher aproveita aquela oportunidade para tentar entender um pouco mais sobre a família de seu marido.

-Não duvido. Os Sohmas é uma das famílias mais tradicionais do Japão. Quando me casei e vim para cá, estranhei muito as regras do clã. Acho que não conheço nem um terço dos Sohmas. O Momiji-kun o conheci alguns anos trás no prédio que o meu marido administra, e onde a senhorita trabalhava.

A senhora Sohma abaixa a cabeça e continua falando.

-O Momiji ficava todas as noites lá, brincando pelo saguão. Até que um dia tentei conversar com ele, mas não consegui, assim que cheguei perto dele, ele começou a chorar. Depois de uma semana o vi por lá, e aí sim, conseguiu conversar um pouco com ele. Mas o Momiji-kun me pareceu ser uma criança muito triste. Perguntei ao meu marido e ele me contou que os pais deles vivem fora do Japão.

Tohru se segurava para não ficar emocionada na frente da mulher, era muito difícil a ver falando daquela maneira do seu próprio filho.

#Ela não parece ser do tipo que preferiria esquecer o próprio filho, ela fala com tanto carinho do Momiji-kun. Mas por que será que ela preferiu ter a sua memória apagada pelo Hatori-san?#

-Quem cuida do Momiji-kun é o senhor Hatori.

-Hatori-san?

-Ele é o médico do clã dos Sohmas e é um Sohma também. Mora do lado de dentro da sede.

-Ahahha, a Honda-chan sabe muito mais sobre a família Sohma do que eu.... ahahahah

Tohru lhe dá um pequeno sorriso. Era evidente que ela sabia muito mais dos segredos do clã do que a mulher que estava sentada ao seu lado. Momo apesar de estar brincando, prestava atenção na conversa das duas e percebe que aquela era mais uma oportunidade para pedir um irmão.

- Eu queria muito ter um irmãozão como o Momi-kun. Mamãe porque que a gente não fala para o Momiji-kun morar aqui com a gente?

-Ahahahah.... A Momo-chan insiste na idéia de ter um irmão mais velho do que ela. A mamãe já falou que só poderia te dar um irmãozinho...

-Irmãozinho eu não quero! Quero um irmão como o Momiji-kun!

-Acho que os pais do Momiji-kun não iriam permitir isso. Você gostaria que a mamãe deixasse você morar com outra família?

-Só se a mamãe for junto.

A menina corre para abraçar a mãe com muita força. Honda fica olhando aquela cena tão meiga com os olhos cheios de lágrimas.

#Eu preciso fazer algo por essa família. Deve ter uma maneira de unir o Momiji com os seus pais e a sua irmã. Eu não posso mais ter o carinho da minha mãe, mas o Momiji-kun ainda pode. Vou fazer tudo o que posso para que ele também receba esse afeto materno que a Elisa-san tem.#

-Tohru-chan...

A Momo passa de leve a mão no rosto da garota, sem perceber ela havia deixado que algumas lágrimas caíssem.

-Nhaaa.... É que o carinho de vocês duas é tão lindo que fiquei emocionada.

-É que a Momo-chan é a minha vida. Acho que morreria se ela não existisse. Sinto que ela curou uma grande dor que sentia na alma, mas nunca descobri o que era. Às vezes sinto como se tivesse me esquecido de algo que foi muito importante em minha vida.

Tohru a olhava um pouco espantada.

#Seria o Momiji-kun? Será que algum dia a hipnose do senhor Hatori deixaria de existir? Será que o senhor Shigure saberia me responder isso? Assim que voltar para casa lhe perguntarei isso.#

by DonaKyon