07/01/2009

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#Por que será que não mereço ter alguém aqui do meu lado agora para secar essas lágrimas? Essa lágrimas que deveriam permanecer secas e que insistem em sair. Eu que sou o próprio kamisama, não deveria estar livre desses sofrimentos? Por que que devo sofro como eles? Não, isso não é verdade! Eu sofro muito mais do que eles, porque eu sei que estou destinada a caminhar sozinha até o final de meus dias. Sei que o que me resta é a solidão desse quarto. Esse é o meu destino por ter nascido como kamisama dos possuídos e por ser o patriarca desse clã amaldiçoado.#

E mais algumas lágrimas saíam de seus olhos molhando um pouco mais o travesseiro. Já estava bem escuro o quarto, e da janela ela via algumas nuvens carregadas de chuva.

#Nem parece que agora a pouco estava tudo ensolarado. Agora sim o dia está parecendo a minha vida, está escura, pesada, triste e solitária.#

-Eu irei com você

Akito ao se recordar da frase dita pelo médico a poucas horas atrás sente a sua angústia se tornar um pouco maior, e abraça fortemente o travesseiro que estava a sua frente e começa a chorar baixinho. Sentia como se o seu coração estivesse sangrando e a sua alma estive a ponto de cair num terrível abismo que a levaria a mais profunda solidão.

#Tenho que me afastar dele novamente. Não consigo ficar perto dele, me machuca muito. Sofro por vê-lo com aquele olho quase cego por minha culpa e sofro ainda mais por saber que os meus sentimentos nunca serão retribuídos.#

-Eu irei com você

#Não quero me lembrar disso. NÃO QUERO!#

Akito afunda o seu rosto no travesseiro que abraçava sufocando os seus soluços. Tinha certeza que a razão daquele convite era por pura pena e compaixão, e isso era tudo o que ela não merecia receber dele. Todos os dias ela se martirizara pelo que tinha acontecido,
mas a sua dor era ainda maior pelo fato de não se arrepender de tê-lo feito infeliz devido a tudo o que tinha acontecido entre ele e a Kana depois daquilo tudo.

Akito sabia que eles se amavam, e que tinham tudo para ser um casal muito feliz juntos, mas ela não tinha sido capaz de lhe permitir tal felicidade. Não podia ver o homem que ela amava sendo feliz ao lado de uma outra mulher.

#Eu sou horrível. Como posso não sentir culpa por isso? Como posso viver sabendo que fui tão mesquinha e egoísta. Não lhe dei permissão para se casar pensando nele como um possuído e eu como o seu kamisama, e muito menos como o patriarca dos Sohmas para evitar um péssimo casamento que traria a desgraça ao nosso clã. Agi seguindo os meus sentimentos como mulher. Sou uma mulher tão mesquinha e egoísta como a Ren. Prefiro ver o homem que eu amo infeliz e solitário do que feliz ao lado de outra mulher.#

Akito se encolhe ainda mais na cama apertando muito mais o travesseiro, durante dois anos havia mentindo para si mesma, não queria aceitar que amava o possuído, não queria enxergar quem ela era realmente. Na verdade, sempre tinha o amado, mas aquilo só tinha ficado claro quando ele apareceu na sua frente sorrindo e feliz ao lado de uma outra mulher. Quando ficou de frente para a verdade, não foi capaz de aguenta-la, entrou em desespero e um ódio a invadiu naquele instante, tudo o que queria era que ele não fosse feliz ao lado da Kana, queria que ele fosse tão infeliz como ela era, que não fosse amado, assim como ela não era por ele.

O som de seus soluços já não era mais abafado pelo travesseiro que ainda abraçava quando o médico se aproxima novamente da porta do quarto do patriarca. Hatori fica parado por alguns instantes como sempre fazia, mas dessa vez o seu sentimento não era de apreensão como sempre tinha sentido por nunca saber com qual humor ela o receberia. Dessa vez ele sabia perfeitamente como Akito estava. Sabia que estava sozinha, naquele quarto sem claridade e chorando desesperada.

by DonaKyon

Um comentário:

Unknown disse...

nossa, que aprofundidade da personalidade de Akito. Incrivel como foi a mistura de amor e odio com uma pitada de depressão. Realmente magnifico.